quarta-feira, 30 de maio de 2012

O mundo pode escolher entre 6 e 16 bilhões de habitantes em 2100

O futuro é uma página em branco na qual podemos escrever nosso destino, respeitando as limitações e as circustâncias históricas. O futuro da economia e da população depende das decisões que se tomam no presente e das medidas colocadas em prática nas décadas subsequentes. Em relação ao futuro da população mundial, as projeções da Divisão de População da ONU apontam para três cenários até 2100, que variam de 6 a 16 bilhões de habitantes. O número que será atingido vai depender, fundamentalmente, do comportamento das taxas de fecundidade. A redução das taxas de mortalidade e o aumento da esperança de vida também afetam o resultado final, mas em uma proporção bem menor do que o ritmo dos nascimentos. A Divisão de População estima que a esperança de vida média do mundo vai aumentar de 68 anos em 2010 para 81 anos em 2100. O que é um cenário bastante positivo e otimista e mostra que as pessoas devem viver mais tempo e obter maiores retornos dos investimentos em educação e qualidade de vida. Mas as grandes diferenças nas projeções ocorrem quando se considera as variações nas taxas de fecundidade. Não se trata de grandes variações no número médio de filhos, pois meio filho (0,5 filho) para baixo ou para cima da taxa de reposição (2,1 filhos por mulher) tem como resultado uma variação de cerca de 10 bilhões de habitantes no número a ser atingido em 2100. A Taxa de Fecundidade Total (TFT) mundial estava em torno de 2,5 filhos por mulher no quinquênio 2005-2010. Se esta taxa permanecer neste nível até o final do século, então a população mundial chegará a cerca de 16 bilhões de habitantes em 2100. Se a TFT cair meio filho, ou seja, para algo em torno de 2,1 filhos por mulher até 2050 e permanecer neste nível, então a população mundial chegará a 10 bilhões de habitantes em 2100. Porém, se a queda da fecundidade for mais rápida e mais profunda o resultado será uma diminuição do montante absoluto da população na segunda metade do corrente século. Caso a TFT cai para 2,1 filhos por mulher até 2025 e continue caindo até 1,6 filhos por mulher por volta de 2075, então a população mundial aumentaria até 8 bilhões em meados do corrente século e depois cairia para algo em torno de 6 bilhões em 2100. Desta forma, a Divisão de População da ONU mostra que no cenário de fecundidade média (2,1 filhos) da projeção a população mundial chegaria a 10 bilhões de habitantes em 2100. No cenário de fecundidade alta (2,5 filhos), a população chegaria a 16 bilhões no final do século. E no cenário de fecundidade baixa (1,6 filhos) a população ficaria em torno de 6 bilhões de habitantes em 2100. Portanto, as possibilidades são bem variadas e o mundo pode escolher qual o montante de população gostaria de ter, em um leque de opções que varia de 6 a 16 bilhões de habitantes. Em termos de taxas de fecundidade o leque varia entre 1,6 filho e 2,5 filhos por mulher. Se a comunidade internacional optar por um número menor de pessoas terá que colocar em prática a meta 5b dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio que trata da universalização dos serviços de saúde reprodutiva. O planejamento familiar não tem efeito retroativo, mas possui grande efeito prospectivo. Evidentemente, qualquer opção tem que ser feita de maneira democrática e respeitando os direitos reprodutivos. Também precisa ser uma escolha discutida e refletida de maneira racional e consciente. Infelizmente, a Rio + 20 não agendou de maneira adequada este tema, pois quando se trata de debater as questões populacionais as ideologias e as crenças religiosas costumam falar mais alto e muitas pessoas preferem o silêncio. Todavia, as alternativas estão colocadas e são de domínio público. O mundo pode escolher qual o caminho que deseja seguir: se prefere mais gente com menos consumo; menos gente com mais consumo per capita; ou mesmo, menos gente e menos consumo, com menor impacto ambiental. O leque de opções é amplo. Só não dá para manter o ritmo de crescimento de 78 milhões de pessoas a cada ano e um crescimento ainda maior da produção e do consumo. As atividades antrópicas já ultrapassaram o limite da sustentabilidade do Planeta. Os atuais governantes dos diversos países do mundo, que vão estar reunidos no Rio de Janeiro, em junho de 2012, não podem usar como desculpa o fato de desconhecerem as alternativas colocadas. Vale a pena lembrar que a inação e a omissão são as piores formas de ação. José Eustáquio Diniz Alves, colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br Fonte: EcoDebate, 30/05/2012

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